segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Paleoparasitologia no Brasil


Ciênc. saúde coletiva vol.7 no.1 São Paulo 2002

Gonçalves, Marcelo L. C; Araújo, Adauto; Ferreira, Luiz Fernando

Paleoparasitologia é o ramo da paleopatologia que estuda os parasitos em material arqueológico ou paleontológico.No início do século 20, os estudos pioneiros de Sir Marc Armand Ruffer, quando descreve ovos de Schistosoma haematobium nos rins de múmias egípcias, lançam a pedra fundamental da nova ciência. A associação entre arqueólogos e parasitologistas começou a se estruturar mais tarde, com a análise de coprólitos (fezes mineralizadas ou preservadas pela dessecação) coletados em sítios arqueológicos e enviados aos laboratórios. As primeiras pesquisas no Brasil objetivaram refutar a crença até então existente de que as doenças parasitárias não eram significantes na pré-história do Novo Mundo. Os primeiros resultados desta linha de pesquisa, ovos de Trichuris trichiura e ancilostomídeos datados de épocas pré-Colombianas, foram apresentados no Congresso Brasileiro de Parasitologia, em 1979.

A paleoparasitologia e as migrações pré-históricas


A análise da distribuição de infecções parasitárias no passado possibilita especulações quanto às migrações humanas em diferentes regiões ao longo do tempo assim como contatos interpopulacionais, uma vez que, sob a ótica evolucionista, uma determinada espécie biológica não surge em mais de um ponto geográfico. Com isso, pode-se confirmar ou refutar teorias de povoamento e propor alternativas com base em achados paleoparasitológicos.
A sugestão de uma via terrestre entre a Ásia e a América do Norte como porta de entrada do novo mundo para os habitantes pré-colombianos, reinou por quase 400 anos como a explicação da origem asiática, via Estreito de Bering, dos primeiros habitantes das Américas. O estudo de coprólitos humanos tem levantado dúvidas sobre o modelo clássico do povoamento pré-colombiano das Américas pelo Estreito de Bering. As teorias clássicas propostas sobre o povoamento sugerem ondas migratórias por esta região, em número e época variáveis. Entretanto, este modelo não pode justificar o encontro de ovos de ancilostomídeos e de Trichuris trichiura em coprólitos oriundos de sítios arqueológicos das Américas há pelo menos 7.200 anos . O clima frio da Beríngia não permitiria a persistência deste tipo de parasitismo na população migrante, agindo como um verdadeiro filtro. Deste modo, a transmissão de parasitos com parte de seu ciclo evolutivo obrigatoriamente no solo seria interrompida ao longo das gerações de hospedeiros humanos que se sucederam por esta via migratória. Tais achados sugerem, na verdade, rotas alternativas, por mar, como uma possibilidade para as migrações humanas na América pré-histórica, tornando questionável a exclusividade absoluta do Estreito de Bering como porta de entrada.

Leia o artigo na íntegra: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232002000100018&lang=pt&tlng=pt

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